Os preços do Brasil estão entre os mais altos do mundo, por dois motivos: impostos (imagino que você pensou neles) e status…
Vamos usar o iPad como exmeplo. Aqui, nos EUA ou na Europa, ele é importado, vem da China. Teoricamente, deveria custar quase igual em todos os países, já que o frete sempre dá mais ou menos a mesma coisa. Mas não no Brasil… A versão básica custa R$ 800 nos EUA, mas aqui ele está custando por volta de R$ 1650. Nos países desenvolvidos é raro ver o iPad passar de R$ 1 000. Numa viagem aos EUA dá para comprar um notebook que aqui custa R$ 5500 por R$ 2300. Ou um videogame de R$ 500 que chega nos R$ 2000 aqui. E os carros, então? Lá um Corolla zero custa R$ 28 mil. Aqui, sai por mais de R$ 60 mil. E ele é tão nacional nos EUA quanto no Brasil. A Toyota fabrica o carro nos dois países. Sim, esse absurdo existe!
Por que tanta diferença? Primeiro, os IMPOSTOS. Quase metade do valor de um carro (40%) vai para o governo na forma de tributos. Nos EUA são 20%. Na China também. Na Argentina, 24%. O padrão se repete com os outros produtos. Enquanto o padrão global é ter UM imposto específico para o consumo, aqui existem 6: IPI, ICMS, ISS, Cide, IOF, Cofins. Essa confusão permite uma sandice (sandice é sinônimo de asneira, burrice, besteira, palermice, burrada…) que outros países evitam: a cobrança de impostos em cascata. O ICMS, por exemplo, incide sobre o Cofins e o PIS. Ou seja: você paga imposto sobre um imposto que já tinha sido pago lá atrás. Tudo fica mais caro. E quando você soma isso ao fato de que não, não somos um país rico, o mico é maior ainda. Levando em conta o salário médio nas metrópoles e o preço das coisas, um sujeito de Nova York precisa trabalhar 9 horas para comprar um iPod Nano (R$ 256 lá). Nas maiores capitais do Brasil, um Nano vale 7 dias de trabalho do cidadão médio (R$ 549).
Mas sozinho o imposto não explica tudo. Outra razão importante para a disparidade de preços é a busca por status, sim status: quando você compra algo que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para mostrar para as pessoas que você não gosta, aquilo que você não é. Mercado de luxo existe desde o Egito antigo, mas no nosso caso virou já aberração. Tênis e roupas de marcas populares lá fora são artigos finos nos shoppings daqui, já que a mesma calça que custa R$ 150 lá fora sai por R$ 600 no Brasil. O Smart é um carrinho de molecada na Europa, um popular. Aqui virou um Rolex motorizado – um jeito de mostrar que você tem R$ 60 mil sobrando. O irônico é que o preço alto vira uma razão para consumir a coisa (culpa do status), às vezes, a única razão. Como realmente estamos ficando mais ricos (a renda per capita cresceu 20% acima da inflação nos últimos 10 anos), a demanda por produtos de preços irreais continua forte. Os lucros que o comércio tem com eles também. E as compras lá fora idem.
O resultado disso é o que os economistas chamam de doença holandesa: o país enriquece vendendo matéria-prima e deixa de fabricar itens sofisticados, passa a importar tudo (ou vai passar o feriado em Miami e volta carregado). Por isso mesmo o governo reclama da desvalorização excessiva do dólar e do euro, que deixa tudo ainda mais barato lá fora. Aí não há indústria que aguente.
Preços de alguns produtos no Brasil e nos EUA, em reais:
Hyundai Veracruz
EUA – R$ 48 mil
Brasil – R$ 150 mil
Playstation 3
EUA – R$ 500
Brasil – R$ 1 999
Perfume CK One 200 ml
EUA – R$ 50
Brasil – R$ 299
Carrinho de bebê Chicco
EUA – R$ 500
Brasil – R$ 1 849
“Nada é certo nesse mundo exceto a morte e os impostos”
Benjamin Franklin, cientista e político americano, 1706-1790
“A coisa mais complicada de entender no mundo é o imposto de renda”
Albert Einstein, cientísta alemão, 1879-1955
Algumas curiosidades sobre os impostos:
Para derrotar Napoleão
O primeiro imposto de renda foi criado na Inglaterra em 1798 para arrecadar fundos e defender a ilha contra as forças do imperador Napoleão, que ameaçava invadi-la.
Farrapos
Um dos principais motivos que levaram o Rio Grande do Sul à guerra por sua independência eram os elevados impostos sobre o gado em pé e a arroba de charque, os principais produtos do estado. Por sua vez, o Império do Brasil criou, em 1845, o primeiro imposto de renda brasileiro para financiar a guerra farroupilha.
Doideira
Dezessete estados nos EUA cobram impostos sobre drogas ilegais. Ou seja, se alguém é pego com maconha ou cocaína, além de ir para a cadeia, paga imposto.
Quarto sem vista
Na Irlanda, em 1696, o valor do imposto imobiliário era calculado com base no número de janelas que a casa tinha. Muito cidadãos cobriram as janelas de suas casas, o que levou a uma epidemia de tuberculose no país Fontes: edições 190 e 285 da revista Superinteressante